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Resenha 455 O Cavalo e seu Menino

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O terceiro livro de Crônicas é um dos mais interessantes, lançado antes d’O Sobrinho do Mago, ele é o terceiro em ordem cronológica e o quinto em ordem de lançamento.

Minha ama, não se destrua, pois, se viver, ainda poderá alcançar o favor do destino; mas os mortos são iguais a todos os mortos.

A história se inicia num outro país, a Calormânia, se passando na Era de Ouro de Nárnia, ou seja, durante o reinado dos Pevensie como Reis e Rainhas de Nárnia. Há uma expansão do universo, antes tão detido nas Terras de Nárnia, conhecemos outro país, outros reinos e realidades.

Eu, que sei muitas coisas do presente – replicou o eremita com um sorriso -, pouco sei das coisas futuras. Por isso não sei se qualquer homem ou mulher ou animal, em todo o mundo, estará ainda vivo quando anoitecer hoje. Mas incline-se à esperança.

As inspirações para o povo da Calormânia são, evidentemente, os povos árabes e da África Setentrional, descritos como pessoas de pele acobreada, com vestes de linho, uso de cores fortes, construções abobadadas e com mosaicos, armados com cimitarras, porém, estamos falando de uma história narrada por um europeu do século XX, então a representação dos calormanos cai em alguns estereótipos, como crueldade, cobiça, traição e escravagismo. Ainda, sua religião politeísta possui um viés ruim, demandando sacrifícios em seu favor, de uma forma pejorativa. Apesar disso, são descritos como bons contadores de histórias e possuem uma sociedade “avançada”, baseada no livre comércio e expansão.

Essas questões, típicas de um tempo passado em que eram comuns as visões estereotipadas de outras culturas, são, na minha opinião, o único ponto ruim do livro e o que o faz perder meia estrela. Não me entendam mal, não desejo soar anacrônico, tenho consciência das problemáticas da época, mas isso não deixa de me afetar enquanto leitor.

É interessante conhecer uma nova cultura e perceber como esse universo está interligado, uma vez que um príncipe da Calormânia deseja se casar com Susana. Mas aqui os protagonistas não são os Pevensie, apesar de serem parte da história.

Minha filha: já vivi cento e nove invernos e jamais encontrei uma coisa chamada sorte. Há algo de misterioso no que está acontecendo mas, esteja certa, se precisamos saber o que é, saberemos.

De toda sorte, Bri, Shasta, Huin e Aravis são personagens muito bem escritos e interessantes, o desejo de liberdade que os une é muito bonito e precioso para todos. Bri e Huin são cavalos falantes narnianos raptados pelos calormanos, Shasta é um menino descrito como branco e loiro, que vive como escravo de um calormano e Aravis é uma filha de tarcãa (nobre calormano) que foi prometida em casamento para um homem mais velho.

Não banque o covarde! – falou Shasta para si mesmo. – É o mesmo barulho que ouvi hoje de manhã. Mas não era o mesmo: um barulho ouvido de manhã, entre amigos, é uma coisa, e um barulho ouvido sozinho, à noite, é outra.

Todas as interações dos personagens, com Bri não se lembrando como é ser livre, como um cavalo livre deve se portar, o que ele pode fazer e o que os outros cavalos livres acharão dele, Shasta querendo ser livre da servidão, as conversas acerca do futuro que se apresenta e o passado que eles estão abandonando são bonitas.

Pura verdade – disse Edmundo. – Mas até um traidor pode corrigir-se. Conheço um. – E assumiu um ar pensativo.

Ainda, existem algumas alegorias interessantes utilizadas no decorrer do livro que enriquecem a trama. Aslam não deixa de fazer sua participação nesse livro, afinal, como vai se concretizando para o leitor, tudo o que acontece faz parte do plano do Leão.

É um livro especial, com questões sobre origem e destino (predeterminação) e uma problemática ruim no que compete à caracterização dos calormanos, ainda assim, as aventuras vividas são emocionantes e os personagens cativantes.

Criança, estou lhe contando a sua história, não a dela. A ninguém será contada a história do outro.

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